Ela poderia esconder o amor pela namorada. Ou guardar para si as opiniões contundentes, o feminismo aguerrido, os posicionamentos políticos. Um dos maiores nomes da nova geração de atrizes, Bruna Linzmeyer representa o que desejamos para as mulheres em 2019: liberdade, autoconfiança e poder. No ar como Lourdes Maria, em "O Sétimo Guardião" (sua nona novela), e com dois filmes previstos para este ano, a atriz de 26 anos fala à Marie Claire sobre ativismo, o fato de ser lésbica, e faz uma provocação para que os homens reflitam sobre seus privilégios
Na noite anterior ao nosso encontro, Bruna Linzmeyer havia sonhado com a filósofa e ativista Djamila Ribeiro. “A gente se encontrava, bebia e conversava até perder a hora. É sempre assim com ela, os assuntos vão longe”, conta com entusiasmo. Há cerca de dois anos, Djamila – que também é colunista desta revista – se tornou figura frequente na rotina da atriz graças ao grupo de estudos feministas, que nasceu depois do episódio de assédio denunciado pela figurinista Su Tonani contra o ator José Mayer. “Entendemos que nos unir era tão importante quanto a denúncia da própria Su no jornal. Mulheres devem se amparar e conversar sobre o que atravessa suas vivências. É uma forma de nos fortalecer.”
Pois desde então isso é grande parte do que Bruna tem feito: ouvir e falar com mulheres sobre mulheres. É verdade que sua carreira vai de vento em popa e que ela nunca trabalhou tanto, e tão bem, como agora – só em 2018 foram dois filmes e uma novela; para 2019 já estão programados dois longas e dois curtas-metragens. Mas é também verdade que o lugar público que ocupa ganhou um tamanho e uma força nunca imaginados por ela. Bruna é hoje a referência de mulher lésbica que lhe faltou quando menina. E sabe o valor disso: “Já ouvi de garotas que conseguiram conversar sobre suas sexualidades com os pais e contar que gostam de outras garotas a partir de uma declaração que fiz”.
Por isso mesmo, Bruna não abre mão de viver seus afetos à luz do sol. O namoro com a artista plástica Priscila Visman é assim desde que começou, em 2016. “Não vou deixar de beijar minha namorada em público porque alguém poderia bater uma foto e isso virar notícia. Nunca foi uma opção me esconder”, diz ela. “Claro que perdi contratos por me assumir lésbica, mas também ganhei novas oportunidades. E claro que fiquei assustada, principalmente porque tinha um apartamento para pagar e meus pais não são ricos, pelo contrário. Mas não tive muita escolha. Ou me assumia e vivia a minha vida, ou tinha um câncer, tinha depressão. Adoecia. A minha sorte é que, por outro lado, me posicionar aproximou de mim marcas que pensam como eu, que acreditam que o exercício da liberdade é valioso.” O mesmo vale para as axilas não depiladas e não escondidas na capa desta edição. “Se não falamos sobre elas, não viram uma questão a ser debatida. É aí que quero chegar. Me depilei durante muito tempo. Ter pelos já foi estranho para mim. Hoje, acho estranho uma mulher não os ter. E mais: acho sexy quando uma mulher tem e acho sexy em mim.”
Fonte: Marie Claire