O mito sobre mulheres guerreiras que viveriam em uma sociedade sem homens tem origens incertas, mas é amplamente discutido nas tradições greco-romanas.
Essas figuras são frequentemente descritas como habitantes da região da Cítia, ao norte do Mar Negro, e em algumas versões como originárias da Ásia Menor.
A origem e o desenvolvimento desse mito podem ser explicados por uma combinação de fatores históricos, geográficos e culturais.
Um dos primeiros historiadores a menciona-las foi Heródoto, que relatou que as Amazonas viviam perto dos citas, um povo nômade da estepe.
Ele descreveu a convivência com os citas, dando a entender que elas eventualmente se integraram a essas sociedades.
As Amazonas aparecem em várias narrativas míticas gregas, especialmente em suas relações com heróis como Héracles e Teseu, por exemplo, uma das tarefas de Héracles foi roubar o cinto da rainha amazona Hipólita, o que resultou em um conflito armado.
Essas histórias refletem uma preocupação grega com o papel da mulher e o medo de uma sociedade matriarcal, invertendo os papéis tradicionais de gênero.
No contexto da Guerra de Troia, Homero as menciona como aliadas dos troianos, retratando-as como "antianeirai" (literalmente, "as que lutam como homens").
A associação com Troia, uma cidade inimiga de Atenas, pode ter reforçado a imagem das Amazonas como estrangeiras e inimigas dos gregos.
As representações artísticas de amazonas em vasos e esculturas gregas reforçam o caráter exótico e guerreiro dessas mulheres, elas são frequentemente retratadas usando armaduras semelhantes às dos hoplitas, mas com traços femininos e com cavalos, armas como arcos e lanças, o que as tornava diferentes dos guerreiros gregos tradicionais.
Alguns historiadores acreditam que o mito dessas mulheres pode ter sido inspirado por sociedades guerreiras reais nas estepes da Eurásia, como os citas e sármatas, cujas mulheres ocasionalmente participavam de atividades militares.
Estudos arqueológicos modernos descobriram tumbas de mulheres com armas nessas regiões, sugerindo que elas poderiam ter inspirado os relatos gregos sobre as Amazonas.
O mito pode também ser uma expressão das ansiedades gregas sobre o papel das mulheres e a manutenção da ordem patriarcal, as Amazonas representavam uma inversão da sociedade grega, onde as mulheres eram relegadas ao espaço doméstico.
Elas são retratadas como violentas e autossuficientes, algo que desafiava diretamente os valores gregos sobre gênero e família.
A localização delas é frequentemente associada a regiões distantes e exóticas, como o Cáucaso ou o Mar Negro, o que reforça sua imagem como "outras", distantes da civilização grega.
Essa geografia mítica permitiu que os gregos projetassem suas preocupações culturais e políticas em terras distantes, mantendo-as ao mesmo tempo como uma ameaça e uma curiosidade.
Com o tempo, o mito das Amazonas foi reinterpretado e adaptado por diferentes autores e culturas, durante o período helenístico e romano, elas foram retratadas de maneira mais simbólica, representando o "exótico" e o "bárbaro" em oposição à civilização romana e grega. No entanto, sempre mantendo seu caráter de guerreiras e seu distanciamento da ordem social tradicional.
Essa narrativa continuou a influenciar tanto a arte quanto a literatura ao longo dos séculos, sendo revivida em diversas épocas para simbolizar questões de poder feminino e autonomia, temas que ressoam até os dias atuais.
Pesquisa: Klaus Dante
Fontes:
- Mayor, Adrienne.
-The Amazons: Lives and Legends of Warrior Women across the Ancient World (2016).
(Este livro explora evidências arqueológicas e literárias para tentar entender a realidade por trás do mito das Amazonas)
- Heródoto.Histórias: Um dos textos fundamentais da historiografia clássica, descrevendo a suposta relação das Amazonas com os citas.
- Tyrrell, William Blake. Amazons: A Study in Athenian Mythmaking (1984).
Análise sobre o significado das Amazonas no imaginário ateniense.
Fonte: PRESENTE DE GREGO
Imagens: arquivo CULTURARTE
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