Nove dias antes de morrer, no último sábado, no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, a microempresária Fernanda de Assis, de 29 anos, se submeteu a um procedimento de preenchimento nos glúteos e nos lábios realizado no dia 4, em sua própria casa, no bairro de Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio. A informação foi confirmada nesta segunda-feira pelo delegado Roberto Ramos, da 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), que investiga o caso. A pessoa que realizou o procedimento na microempresária já foi identificada pela polícia e poderá ter a prisão solicitada à Justiça nas próximas horas.
Segundo o delegado Roberto Ramos, testemunhas e pessoas ligadas a Fernanda contaram que a vítima já havia feito um outro procedimento estético recentemente e por isso teria recebido a recomendação de não se submeter a nenhum preenchimento em um espaço de tempo tão curto. A mulher que injetou o produto no corpo da microempresária também sabia do fato, mas optou por fazer assim mesmo o procedimento.
— A autora vai responder por homicídio e exercício ilegal da medicina — disse o delegado, que preferiu não divulgar o nome da mulher responsável pelo procedimento feito em Fernanda de Assis, para não atrapalhar as investigações.
Segundo a polícia, a mulher investigada foi indicada a Fernanda por uma amiga, durante um atendimento estético feito em uma clínica de Ricardo de Albuquerque.
— A Fernanda viu o corpo da amiga numa clínica de bronzeamento e perguntou quem havia feito os procedimentos de preenchimento. Recebeu a indicação e procurou a mulher. Ela teria cobrado mil reais para fazer as aplicações — disse Roberto Ramos.
O companheiro de Fernanda foi ouvido pela polícia nesta segunda-feira e falou rapidamente com a imprensa em seguida:
— A delegacia já identificou a pessoa (que fez o procedimento na Fernanda). O nome já está com eles (policiais). Vão ser tomadas as medidas cabíveis. O motivo da morte foi um procedimento estético ilegal, sem prescrição médica, e que por isso ela veio a óbito — disse Alex Fernando.
A amiga que indicou a mulher que fez o procedimento na vítima também está prestando depoimento. A oitiva ainda não tem previsão de término. Fernanda de Assis começou a passar mal dias após o preenchimento. Na sexta-feira, ela deu entrada no Hospital Albert Schweitzer, onde morreu no sábado por conta de uma embolia pulmonar. O corpo de Fernanda deverá ser sepultado neste sábado, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque.
Especialista faz alerta dobre riscos
Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o cirurgião Bruno Herkenhoff chama a atenção para as semelhanças entre os casos de Fernanda e da bancária Lilian Calixto, que morreu em julho passado após complicações em um procedimento estético, realizado em uma cobertura na Barra da Tijuca. Nos dois casos, as pacientes fizeram o procedimento em casa, o que é proibido.
Apesar de muitos profissionais realizarem procedimentos em clínicas e consultórios, toda cirurgia, estética ou não, deve ser feita num centro cirúrgico. Além disso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica contraindica o uso do PMMA em grande quantidade.
- Para evitar riscos desnecessários, a orientação é buscar profissionais credenciados. A sociedade disponibiliza no seu site os nomes dos cirurgiões habilitados para realizar procedimentos estéticos. Os médicos qualificados têm uma carga horária maior de residência médica, com três anos de estudo além dos dois anos de residência médica - diz Bruno Herkenhoff, acrescentando que trabalho realizado por profissionais sem qualificação pode resultar em necroses e perfurações de órgãos além de mortes, como ocorreu com Fernanda.
Relembre o caso do Doutor Bumbum
Em 15 de julho deste ano, a bancária Lilian Calixto, de 46 anos, deixou Cuiabá com destino ao Rio de Janeiro na intenção de fazer um preenchimento nos glúteos com o médico Denis Furtado, conhecido por seus clientes e centenas de milhares de seguidores nas redes sociais como "Doutor Bumbum". O sonho de R$ 20 mil começou a se tornar pesadelo quando, após o procedimento, na cobertura do próprio médico, na Barra da Tijuca, Lilian começou a se sentir mal. Ela, então, foi levada por Denis, a namorada dele, Renata Cirne, e a mãe, Maria de Fátima Barros, para o Hospital Barra d'Or, também na Zona Oeste.
As câmeras do hospital flagraram quando Lilian chegou, em uma cadeira de rodas, com dificuldade para respirar e apoiando o rosto na mão. Ela estava lúcida, porém com taquicardia, sudorese intensa e hipotensão. Logo em seguida, o quadro de Lilian se agravou. Ela sofreu quatro paradas cardíacas e morreu pouco depois. A hipótese inicial levantada sobre as causas morte seria embolia pulmonar, devido à aplicação de PMMA, polimetilmetacrilato, uma substância sintética.
Não demorou para que ex-pacientes do médico aparecessem, denunciando diversos outros tipos de problemas em seus procedimentos.
Denis continua preso, acusado de homicídio qualificado e associação criminosa. Grávida, Renata chegou a ser presa, mas recebeu habeas corpus e foi solta.
Autora de procedimento estético em microempresária é identificada e terá a prisão pedida à Justiça
A autora do procedimento estético ao qual se submeteu a microempresária Fernanda Assis já foi identificada e terá a prisão pedida à Justiça.