Analfabetismo funcional atinge 27% da população
Entre escrever o nome e interpretar textos existe uma grande diferença. O analfabetismo e o analfabetismo funcional no Brasil são, por muitas vezes, confundidos e, até mesmo, mensurados de forma errônea, gerando dados inconsistentes com a realidade nacional. Para se ter ideia, o indicador usado pelo programa Todos Pela Educação é calculado com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que tem em seu questionário a questão para os maiores de 15 anos, por exemplo, você sabe ler e escrever? Contudo, são considerados alfabetizadas as pessoas que declaram saber ler e escrever.
Um estudo especial sobre alfabetismo e mundo do trabalho, do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), produzido pela Ação Educativa e do Instituto Paulo Montenegro, aponta que no Brasil 92% da população entre 15 e 64 anos, não é proficiente em escrita, leitura e nas habilidades matemáticas.
Indicadores da pesquisa foram divididos em 5 grupos e apresentaram os seguintes resultados:
• Analfabetos (4%) – não sabem ler ou escrever, alguns conseguem ler números.
• Rudimentar (23%) – sabem ler e escrever textos curtos de baixa complexidade, mas não conseguem interpretar textos ou problemas matemáticos.
• Elementar (42%) – sabem ler e escrever, selecionam informações em textos diversos, de extensão média e tem a capacidade de fazer pequenas inferências. Resolvem problemas matemáticos com números em ordem de milhar, como o total de uma compra ou troco.
• Intermediário (23%) – sabem ler e escrever, sabem localizar informações em textos e interpretá-los e tem conhecimento de figuras de linguagem. Tem habilidade matemática como problemas, porcentagens, proporções, e juros.
• Proficiente (8%) – não tem restrições para ler ou escrever textos e, também, resolver problemas matemáticos.
Ou seja, mais de 70% está baixo no nível intermediário das competências.
Em relação ao perfil do público entrevistado, as mulheres representam 52% e os homens 48%. Entre eles, 44% indicaram que cursam ou completaram o ensino fundamental, 40% o ensino médio e, por fim, 17% afirmam que cursam ou concluíram a educação superior – índice alarmante, se comparado ao número de pessoas proficientes.
O problema é mundial, recentemente, um jornal norueguês, bloqueou os comentários nas notícias em sua página. Agora, para comentar, o usuário deve responder um questionário de interpretação do texto. Se aprovado, ele pode entrar na discussão. O motivo dessa ação é evitar que as pessoas saiam do assunto e, também é a falta de compreensão dos leitores que acabam disseminando informações erradas sobre as matérias.
Faixa etária e mercado de trabalho
Os indivíduos que tem mais de 50 anos são maioria no grupo de analfabetos, somando 58%. Já os jovens de 15 a 24 anos estão concentrados no patamar elementar (27%), intermediário (31%) e proficiente (32%). Mesmo com o alto número de analfabetos funcionais dos entrevistados, 63% informaram que estão trabalhando, sendo que do total 24% no comércio, 10% na construção, 10% nos serviços domésticos e 10% na indústria. Apenas 10% estão desempregados, 3% procuram o primeiro emprego, 5% são aposentados (as) e 7% estavam em situações como pensionista, viviam de renda ou nunca haviam trabalhado e nem estavam procurando emprego; 11% estavam na condição de dona de casa.
Contudo, esses dados retratam o subemprego e o emprego informal no país. O estudo aponta ainda que o grupo de analfabetos e rudimentares estão atuando, predominantemente, nos serviços domésticos, comércio, construção ou atividades ligadas à agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura.
Base escolar
Segundo a pedagoga especialista em educação e coordenadora do ensino infantil do Colégio ICJ, Edith Zandona, a alfabetização começa quando a criança ingressa na escola. Mas, ela explica que desde 1 ano as crianças podem ser estimuladas a compreender e manusear livros. “É preciso investir no vocabulário, intensificar a leitura por meio de textos simples até os complexos. Mas é necessário respeitar os limites da aluno”, afirma.
Ela conta que no processo de alfabetização as brincadeiras são um dos artifícios para estimular as crianças de acordo com a idade. “Usamos ficha com os nomes da criança e de objetos, trabalhamos as letras do alfabeto, revistas em quadrinho e livrinhos, juntar as sílabas e formar o som. Já com 5 e 6 anos, trabalhamos a literatura e interpretação. O papel da família é fundamental nesse processo. Por exemplo, ler um livro com a criança e até mesmo pedir para a criança contar a história faz toda a diferença”.